A maioria das pessoas já entram no jogo derrotados.
Nosso maior carrasco só pra começar é a
esperança de ganhar, o foco na vitória, a expectativa de que vai se dar bem. O
olhar muito a frente é o que nos faz perder o contato dos dedos no chão. E ao
menor obstáculo á vitoria, já seguem naturalmente uma grande ansiedade,
desespero, confusão e uma cegueira.
Sem um final feliz, é como se o jogo não tivesse sentido
algum. E ainda que atinja alguma vitória já
somos perdedores nesse processo. Mas
para que o jogo ganhe vida é
preciso ter a vontade de ganhar. A pergunta é: Como desfrutar da competição sem
ser escravo da vitória?
Para que tanta tensão? Sorria mais! |
Muitas vezes acontece assim. O cara faz de tudo pra
reconquistar a ex-namorada. Se ela voltasse, ele ia logo dizer que nunca
esqueceu ela e que ama ela eternamente e que estava sofrendo que nem um
condenado a cadeira elétrica. Como ela não volta, ele mantém um contato
distante como se tudo estivesse numa boa. Ele entra no jogo só pra ganhar e sai
correndo quando a derrota mostra a cara.
Muitos são assim. Contamos nossa vitória aumentando ao máximo
o valor do jogo e do mesmo modo diminuímos o significado ou até anulamos a
aposta quando perdemos. “Eu não queria ganhar mesmo”, “ é só um festival”, “
ela nem era tão bonita assim”... Não conseguimos aceitar o fracasso e continuar apenas ali, em
cima do palco.
Outra reação que prevalece quando perdemos é a culpa.
Apontamos pra nós mesmo, para outras pessoas, e principalmente para condições
externas. Se deu errado é porque alguém
fez coisa errada. Muitos vivem sob a mania de achar que errar não é
natural. Errar é muito normal. E dar em merda também.
Não sabemos aceitar uma derrota sem nos culparmos |
Logo depois da culpa vem o hábito de anotar em nossa
listinha de “Fazer e Não fazer”. Contamos orgulhosos para amigos. “Depois dessa
eu aprendi que isso, isso e aquilo...” Enfim, ganhamos experiência. E nas
próximas vezes já sabemos o que fazer
para tudo dar certo. Não é verdade? Pena que a vida é muito sacana com a gente
e quase nunca repete o mesmo evento.
O que descrevi acima é bem comum de se encontrar em todos
nós. Porém nossa ação pode ser muito diferente disso. Mas para responder a
pergunta do começo do texto vamos pensar
as qualidades sacanas do jogo, ou de qualquer espaço que podemos viver
um experiência.
Sem entrar em um
relacionamento amoroso ,por exemplo, não se pode transar, beijar, casar, ter
filhos e viver milhares de coisas juntos ,que
só esse jogo torna possível. Mas esse mesmo jogo traz várias
possibilidades ruins: traição, ciúme, pensão, divórcio...
Nosso grande erro é, portanto achar que pode existir uma
competição que não haja derrota. Sem essa mania, é fácil errar sem justificar,
cair e se levantar na mesma hora, falhar sem culpar a ninguém, perde sem
reclamar. É possível aceitar o
desconforto da derrota sem tentar
esquecê-la e avançar para o próximo jogo.
Assim no momento mais difícil do jogo, quando todos se
desesperarem com medo da derrota você começa a brincar mais ainda, calmo e
preciso como se nem estivesse ali. Avançando sem medo. Esse é o melhor jeito de
lhe dar com qualquer competição, caminhar para a vitória e mesmo quando vem a
derrota você a recebe inteira (sem piadinhas).
Ao ganhar, é até provável que os outros perguntem por que
você não leva tudo tão a serio. E ao perder alguém até estranhe sua falta de culpa. Eles podem
até confundir essa liberdade com indiferença, mas descartam essa possibilidade
assim que reparam no brilho dos seus olhos e na intensidade com que você dança,
canta ou interpreta sem se preocupar tanto com o placar.
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