O carro não estava cheio ainda quando passou por um ponto de ônibus e entrou um casal eufórico, se agarrando e se beijando como se o mundo fosse acabar em alguns minutos. Eles se agarraram tanto que até agora eu tenho a quase certeza de que a perna que a mulher passou a mão duas vezes era a minha, e não dele. Então o celular da moça toca. Ela olha o numero com cara de preocupada, faz um sinal para que o rapaz faça silencio e atende com uma voz suave:
“Ooii, amor...”
Todos dentro do carro se olharam, sem entender nada, ou melhor, entendendo tudo.
“Eu? Eu estou indo pra casa da Julia. Como “que Julia”, amor? A Julia do trabalho. Vou dormir lá, mas amanha cedinho eu passo na sua casa, tá?! To morrendo de saudade.”
Como ela pode!... |
“Oi, linda. Claro, tudo ótimo”
As pessoas se olhavam mais aliviadas. Até que em fim uma pessoa normal...
“Estou indo pra casa. Sim, sim. O que? Como não? Sei, sei.”
Ele baixa a cabeça e fica falando baixinho, tentando esconder o que diz, e continua:
“Vai dormir na casa da Paula, da faculdade? Ta bom. Também te amo. Não é nada não. Está tudo bem sim. Beijo, Xau.”
Ele desliga o celular, passa a mão no cabelo e dá um leve suspiro, como um condenado que caminha para a forca. O casal se olhou, segurando o riso. Olhares surpresos tomaram conta de todo o lugar. O único que não demonstrava nenhuma reação era eu. Eu estava ocupado demais pensando como iria transformar aquela historia em texto.
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