O Busu da 17:30

Era mais ou menos 17h30min quando eu entrei naquele ônibus cheio. Eu estava cansado e na minha testa os raios de sol que ainda resistiam faziam brilhar minha pele, minha mochila estava pesada e como o ônibus estava cheio não havia mais lugares para sentar então me agarrei a uma daquelas barras e fiquei lá, sacudindo de um lado para outro a cada lombada que o veiculo ultrapassava.

A viagem duraria cerca de uma hora e meia, tempo o suficiente para eu ler algumas paginas daquele livro que eu já não leio faz um tempo. Conformado com a situação de fazer este trajeto em pé peguei meu par de fones e coloquei as mesmas musicas que ouço sempre enquanto admirava ou lamentava a paisagem que passava pelas janelas como um filme onde a trilha sonora era por minha conta.

Depois de algum tempo parei por um instante de olhar pela janela e percebi um olhar de encontro ao meu, nos mantivemos olhando por alguns segundos e logo depois disfarçamos como quem olha para outro lado e procura alguma coisa para fazer, este encontro se repetiu mais vezes durante a viagem. As vezes meus olhos procuravam os dela e quando ela não procurava os meus eu admirava sua beleza em segredo e quando ela percebia eu rapidamente coçava a cabeça e olhava para qualquer coisa para manter o sigilo da minha admiração secreta.

Enquanto eu estava ali em pé ouvindo a mesma musica pela decima quinta vez e fingindo que não estava olhando para ela, ficava pensando em como me apresentar, mas achava uma idiotice me apresentar para alguém ou achar que ela estaria me dando corda só porque trocamos alguns olhares dentro de um ônibus lotado, talvez fosse sem querer, talvez ela nem quisesse olhar nenhuma daquelas oito vezes. E isso me calava toda vez que eu pensava em falar alguma coisa, mas eu tinha que falar. Se eu não falasse eu ia ficar o resto da semana lembrando aqueles olhos e pensando no que poderia ter acontecido se eu dissesse um “oi”, somente um “oi.  

A cada minuto que passava estava mais próximo de me perder daquele olhar, ela poderia descer em qualquer ponto e eu ficaria lá em pé, com a testa brilhando e com cara de bobo. Enquanto eu pensava no que fazer lá estava ela, linda com seus cachos e sua camisa branca com frutinhas coloridas só desejando chegar em casa ou esperando que eu dissesse algo.  Foi então que o ônibus começou a esvaziar, ela conseguiu se sentar mas ainda assim seus olhos vinham de encontro ao meu, e a cada ponto que o ônibus se arrastava eu sofria com meu dilema.
Quase assim, só que com menos sorrisos
Finalmente estava chegando minha vez de deixar o ônibus e ela ainda estava lá, foi quando percebi que ela iria descer no mesmo ponto que eu.  Então eu pensei rapidamente comigo mesmo que deveria falar alguma coisa, chamar ele e elogiar aqueles lindos olhos ou  a camisa branca com frutinhas dela, ela estava ali na fila para descer do ônibus e eu logo atrás olhando para a apostila que ela abraçava do jeito que eu queria ser abraçado por ela, percebi que era uma apostila de sociologia e eu gosto de sociologia, estava ai mais um motivo para dizer “oi”.

Ela desceu, eu desci logo atrás e como um psicopata que persegue alguém segui uns cinco ou seis passos dela depois parei e deixei ela ir com uma  quase lagrima nos mesmos olhos que iam de encontro aos dela. Enquanto estava ali parado me lamentando, fiquei imaginando onde iriamos nos casar e qual seriam os nomes dos nossos filhos se eu tivesse feito alguma coisa. E de repente pegar um ônibus e trocar olhares com ela é tudo o que eu mais quero agora e amanha estarei lá no mesmo horário esperando por ela para dizer um “oi” ou simplesmente encontrar aquele olhar mais uma vez e escrever mais textos como este por não te feito o que eu poderia fazer, mas achei melhor não faze-lo pela sensação de ser envolvido por algo tão misterioso como cachinhos, um lindo olhar e uma blusa branca com frutinhas.

0 comentários:

Postar um comentário

... . ...

Acharam o fim da página... Uma salva de palmas para Sherlock Holmes, nosso mais paciente e ilustre leitor!